quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Penélope das ruas

Ônibus lotado, setembro chegou, o calor dos corpos, suores, desodorantes no ar, cheiro de gente. Da janela, viam-se pequenos jardins onde minúsculas flores despertavam nossos sentidos com cores primaveris. Breve namoro com a natureza no caos da cidade veloz, feroz.
Vestido de tricô verde-claro, artesanal, ponto a ponto, ela trazia em suas robustas e calosas mãos, agulhas de tricô que se movimentavam magicamente, hipnoticamente céleres.
Os atropelos do veículo não alteravam o seu ânimo, tranquila estava, sentou-se ao meu lado.
Chegou o ponto final e desceu. Ainda a vejo parada na rua, Um pouco de verde na dureza cinzenta do asfalto, sol sobre sua cabeça de fios prateados. Novelo vivo de lã humana, tecelã dos nadas.
Penélope das ruas, anônima e solitária. Perdeu-se do meu olhar.