segunda-feira, 16 de abril de 2012

Palavras boas . Palavras más

Ou você escreve certo, ou escreve errado, ou você é bom naquilo que faz, ou você não sabe lhufas. É assim mesmo que a banda toca? Ainda vivemos sob o signo do Não, da castração. Ou tu tem estilo, meu chapinha, ou não tem. Millôr Fernandes gritava em todos os seus artigos: "Enfim, um escritor sem estilo!" Cortou os rótulos do pseudo intelectualismo e chegou ao topo da montanha. E lá, há de ficar para sempre, mas não como uma estátua de mármore, ficará como exemplo vivo, sarcástico, debochado, mordaz, crítico dos críticos, sem o fardo e o fardão dos acadêmicos e imortais.
Uma topada e o dedão machucado te faz explodir num sonoro palavrão. Como desabafar a dor sem um palavrão?
Quando os mestres filólogos encontraram  a raiz da palavra mais cara ao ser humano, Mãe, "viram" um homem desesperado clamando pelo aconchego da sua mãezinha. Terna palavra essa. Depois, veio o termo Água: o homem sedento no deserto queria matar sua sede, mas não a matou, outras sedes e fomes viriam perturbá-lo através dos tempos.
O latim vulgar era vulgar mesmo, o povão, dito inculto, na sua avassaladora sabedoria, o impôs sobre o esnobismo do latim culto, apenas escrito, aquele que só os sábios de narizes empinados guardavam a sete chaves, por essas e outras, perdeu-se nas areias do tempo, bem feito! Para nossa sorte, vulgarizamos o latim, mas os gramáticos não gostaram nem um pouquinho dessa história. Vida que segue! Deixemos os gramáticos na sua "ilha da fantasia", eles precisam sobreviver.
Palavras como matar, trair, ferir, falsear, torturar, transar, invejar, ficaram estigmatizadas como sujas.
"Quero matar (acabar) com o vício de fumar!"
Pronto, matar virou palavra boa, limpa. Mas quando o psicopata assassino planeja aniquilar sua vítima, ele pensa: "Vou matar esse cara com requintes de crueldade..."
Puxa, a coisa aí já ficou feia, né?
Palavras, metalinguagem, pensamentos implícitos, o inconsciente coletivo, a psicogenética, os neologismos, a neurolinguística, o falar "errado" dos deserdados, tudo, tudinho nos servem como ferramentas nessa ânsia, nessa Babel de ensaios e erros em que enveredamos quando tentamos transmitir ao outro um pouco das nossas impressões. 
Impressões, apenas impressões, pois a Palavra Sagrada dos deuses, a Palavra impronunciável permanecerá oculta.
Dalida e Alain Delon dialogam musicalmente em Parole, Parole, palavra que significa "palavra" em língua italiana. Muito legal! Percam - ou ganhem - dois minutinhos para escutá-los.
"Última Flor do Lácio
Inculta e bela
És, a um tempo,
Esplendor e sepultura..."
Acho que cabe aqui invocar o espírito do bom parnasiano (qual foi o chato que rotulou assim o grande Poeta?) Olavo Bilac...