quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Ventríloquo que Emudeceu

PARA CRIANÇAS E ADULTOS
Conto inspirado na imortal obra do italiano Carlo Collodi, Pinóquio:
O espelho do camarim lhe revelava o que ele próprio recusava-se a ver, a sua decadência. Uma calvície acentuada, orelhas pontiagudas, olhos opacos, um corpo magro em pele e osso, tudo isso e mais um temperamento difícil o tornavam asqueroso nas suas frustradas tentativas de contatos com as mulheres.
Tal qual Geppeto da fábula, esse arremedo humano, vendo-se envolto em amarguras e desespero, decidiu-se por dar corpo e vida ao seu Pinóquio. Assim brotava da madeira inanimada o alter ego, ou seja, o que Jonas sempre desejara ser, mas não era. Até o nome não lhe pertencia e o povo chamava-o de Jonas por seu passado dentro de navios de pesca, onde sacrificara golfinhos e animais marinhos em sanguinolentas pescarias predatórias, impiedosas. Diziam que, ao contrário do personagem bíblico que renascera do ventre de uma baleia, poderia ter sido digerido pela mesma que falta não faria à humanidade.
Habilidoso entalhador, o velho rasgou com a faca a casca e a carne de uma das mais belas árvores de um parque público e a transformou num boneco caprichoso e sedutor.

O sucesso chegou e os espetáculos se sucediam. Apresentavam-se para o público infantil nos circos, e as crianças, entre pipocas e algodões doces, riam-se sem parar dos trejeitos e anedotas do pequenino ser envernizado.
Daí, para o teatro de marionetes, foi uma simples questão de tempo. O público feminino ficava histérico e Jonas, por dentro, exultava. Sua boca nunca se abria, pois tinha que simular a voz de sua criatura, seu novo som, um 'new sound'- como gostava de denominá-lo em inglês.
As almas de ambos uniram-se, e passaram a afundar mais e mais na escuridão e no torvelinho do egocentrismo e malícia. Jonas bebia além dos limites e até seu brinquedinho trazia uma garrafa na mão. Tal pai, tal filho. Grosserias e palavrões começaram a repercutir mal em seus shows e os contratos escasseavam.
Simultaneamante, não sabemos se foi um toque do destino (quem poderá sabê-lo?), na sua última apresentação, o carismático 'new sound' desfez-se repentinamente em pó. Os cupins o corroeram por dentro e corroído de muita tristeza, seu dono foi definhando, definhando. Voltou a ser um solitário. Emudeceu para sempre.
Essa é uma dura lição para aqueles que confundem criador e criatura, somos apenas o que somos, sem máscaras de lobo ou ovelha, seres humanos imperfeitos em busca de algo que nos torne menos embrutecidos e mais humanizados em relação ao nosso próximo.
Indico-lhes um seriado interessante com uma temática mágica e deliciosa, O Mestre dos Brinquedos, vale a pena dar uma olhadela.Imperdível!

Mas o espetáculo não pode parar...
E o palhaço o que é?
É ladrão de mulher!
Recordar é viver!
Vamos curtir juntos João e Maria com a Eterna Musa da Bossa-Nova, Nara Leão em dueto com Chico Buarque:
"Agora eu era o rei
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy era você
Além das outras três..."
Beijos, amigos! Até breve! Isto é, se Papai-do-Céu assim o permitir, lógico!!!