quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Vargas Llhosa - E a Academia Sueca rendeu-se ao seu talento


Jorge Mario Vargas Llosa tinha quase tudo para não dar certo. Quase, eu disse. Nasceu em Arequipa, no Peru, em 1936 e, após poucos meses de casados, seus pais separaram-se. Hoje em dia, dir-se-ia que foi uma criança traumatizada, mas há traumas que também nos impulsionam para o campo de batalha da vida e nos tornam também vencedores de nós mesmos. Aconteceu com Llosa e aqui, sem fazer alarde, vamos pinçar detalhes da vida e obra desse grande Mestre.
Embora alguns lhes lancem farpas (sempre o fazem aos que lutam), ele foi um crítico ferrenho às castas sociais e raciais que dominam ainda hoje o seu país. A realidade peruana é cruel e opressiva, porém Vargas Llosa jamais deu-se por vencido e sua bagagem cultural ampliou-se a ponto de se tornar imensa, única e incontestável.
Em A Guerra do Fim do Mundo, tendo a batalha de Canudos como tema central, sendo dedicado o livro ao nosso Euclides da Cunha ("Os Sertões"), ele agigantou-se e recolheu dados significativos(deslocou-se pessoalmente para o nordeste) sobre o genocídio praticado pela recente República Brasileira que devastou uma comunidade de pobres nordestinos no sertão baiano liderados e organizados por Antonio Conselheiro. Bem, recomendo a quem se interessar que faça uma pesquisa mais aprofundada sobre o tema que é muito pouco divulgado em nosso próprio país. Por que será?

Outro best-seller que marcou época foi o romance Pantaleão e as Visitadoras que, embora seja tido como "engraçado" não deixa de ser uma fisgada de ironia sobre as forças armadas peruanas que contratam um oficial para recrutar prostitutas com a finalidade de "aliviar as tensões" dos seus soldados. Virou filme que não deve deixar de ser visto pelos cinéfilos.

Ainda como curiosidade, poderíamos acrescentar que, mais recentemente, sua sobrinha, Claudia Llosa , escritora e premiada diretora de cinema, realizou um filme que pode-se dizer ser um grito de repúdio ao estupro e à crueldade silenciosa com que tratam as mulheres peruanas e latino-americanas em geral.
Por tudo isso e por muito mais, ofereço aqui, com carinho e profundo respeito, essas simples linhas ao escritor que, graças a Deus, está entre nós para prosseguir no seu trabalho incansável de sacudir a poeira da nossa Latino América. Se a famosa Academia Sueca de Ciências rendeu-se ao teu talento, Vargas Llosa, por que não nós e todos os que clamam por um mundo mais justo?
Musicalmente, escolhi El Condor Pasa com a inesquecível dupla Simon e Garfunkel. Essa canção faz parte do folclore mais antigo dos Andes Peruanos. Maravilhosa! Vamos ouvi-la?
"Eu prefiro ser um pardal que uma lesma/Sim, eu preferia/Se eu pudesse/Certamente iria preferir/Eu prefiro ser um martelo do que um prego/Sim, eu preferia/Apenas se eu pudesse/Certamente iria preferir/Longe, eu preferiria velejar longe/Como um cisne que está aqui e se foi/Um homem envelhece a cada dia/Isto dá ao mundo/Seu som mais triste/Eu prefiro ser uma floresta que uma rua/Sim, eu preferia/Se eu pudesse/Certamente iria preferir/Eu prefiro sentir a terra debaixo dos pés/Sim, eu preferia/Apenas se eu pudesse/Certamente iria preferir..."