domingo, 25 de julho de 2010

Eliza e o Moinho


Um bebê é arrancado dos braços da mãe que já goteja sangue da cabeça, após uma coronhada certeira. O homem corpulento torce-lhe o pescoço, retira-lhe as vestes e arrasta o corpo nu até uma mesa de açougueiro.
Pedaço por pedaço, naco por naco, tudo se transforma numa massa disforme de músculos, cabelos e muito sangue. Eliza está sendo desossada com destreza pelas mãos de um ser sombrio e incapaz de um minuto de remorso.
Os cães da fazenda mineira farejam o odor estimulante do sangue e uivam, exigindo sua parte. Conseguem mais do que isso, pois o verdugo de Eliza atira-lhes as partes moles e até as mãos com as unhas ainda esmaltadas de cor vermelha.
Eliza errou por ser uma prostituta? Pois saibam que no nosso Código Penal se um homem forçar uma relação sexual com uma mulher dessa profissão, estará incorrendo em crime.
Eliza calou-se, mas a minha angústia aumentou por ela, por vocês e por todas as mulheres que se envolvem com “atletas de aço", frios e endinheirados. Não consigo virar uma avestruz e enfiar a cara num buraco, fingir que o lado obscuro do homem não existe. Gostaria que tudo isso tivesse nascido da minha fértil imaginação, mas aconteceu e, não tenho dúvidas, continuará a acontecer e a ser encoberto na impunidade e injustiça em que vivemos.
Mestre Cartola, certa vez, percebeu que sua filha estava trilhando caminhos estranhos. Não quis repreendê-la com dureza, mas compôs uma peça musical de rara beleza e sensibilidade onde profetizava o triste fim de todas as Elizas: O MUNDO É UM MOINHO.
“Ouça-me bem, amor. Preste atenção, o mundo é um moinho. Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos, vai reduzir as ilusões a pó... “
Quem interpreta é a nossa Beth Carvalho a quem tive o prazer de conhecer, ótimo ser humano. Interpretação intensa, letra que diz tudo. Solta a voz, Beth!!!
Estou indignada! Chorei muito para escrever estas linhas...
Indignem-se!