quarta-feira, 24 de março de 2010

Estrelas nas noites de Van Gogh...

REMETENTE: Rachel


DESTINATÁRIO: Vincent Willem Van Gogh

"Vincent querido,


Faz tanto tempo e nem sei por onde começar. Olho para o firmamento só para ver as constelações que pintavas, elas ainda cintilam, mas o homem apagou-se da minha existência.
Não consigo conter essa dor da tua partida repentina, sem um beijo ou um adeus. Gostaria de não relembrar-me das tragédias e brigas na casa amarela onde você e Paul Gauguin moravam.
Horrendo foi o instante em que me entregastes o lenço sanguinolento com a tua orelha decepada. Por que para mim? Foi o absinto, eu sei. Foi o desespero da solidão, eu sei. Não encontravas um caminho e caíste no sombrio abismo dos comedores de batatas. Estudavas a Bíblia para salvar almas, mas já estavas perdido.Sonhavas em ser um pastor, mas onde foram parar tuas ovelhas?
Tivemos bons momentos, meu ruivo amado. Por vezes, ficavas a desenhar no ar, com as mãos, as paisagens de Rubens, teu preferido. Confesso que não entendia os teus arroubos, apenas adivinhava a tua paixão incendiária no teu magro peito. Magros, éramos dois famintos que vivíamos às expensas de Theo, o caridoso irmão.
A barba por fazer, a cama tosca onde, nus, nos entregávamos ao prazer dos miseráveis. Dizias com ciúme que eu tinha outros, era verdade. Só te esquecias que tu foste o único que amei em silêncio, pois nessa vida que levo, não devo ousar amar. Chamam-me de prostituta, assim morrerei, foi meu destino.
Gachet, teu médico, não me deu certeza da tua recuperação, mas peço por ti em minhas orações.
E assim, sem saber se essa missiva chegará às tuas mãos manchadas pelas tintas, já estou me despedindo. Despedida definitiva, a tuberculose invade meus pulmões.
Só pretendo mesmo te dizer, Vincent, que nunca, nunca vou te esquecer...
Tua,

Rachel"



É ficção, minha gente! Essa carta nunca existiu. Motivos para fazer a postagem: Van Gogh nunca foi reconhecido em vida e jamais alcançou o amor das mulheres. Além do mais, meus ancestrais eram holandeses provenientes de Zundert na Holanda. Mais ainda, Aldoux Huxley reconheceu a transcendência metafísica na cor amarela que o pintor deixava explodir em suas telas.
Em "Sede de Viver", o filme que traça as biografias dos dois grandes, Van Gogh e Paul Gauguin, contamos com as interpretações marcantes de Anthony Quinn e Kirk Douglas e, de quebra, uma trilha sonora esplendorosa. Vincent merece!

Starry, Starry in Night...a música...


Estou tirando uns quinze dias ou mais para cuidar da vida real. Vai tudo bem! Não se preocupem!

Responderei aos comentários que porventura receber com o carinho e respeito de sempre...
As tulipas do Dr. Clusius não poderiam faltar aqui - ele foi o primeiro médico a fundar a primeira Universidade de Medicina do mundo e na Holanda. Os célebres Países Baixos da monumental engenharia dos diques para conter o avanço das águas são também um grande exemplo da luta de um povo por sua nação.

terça-feira, 16 de março de 2010

Uma Ilusão à toa...

Aquela cena nunca me sairá da cabeça. A orla marítima iluminada, tal como um cordão de luzes, contornando Copacabana. Os automóveis zunindo pela pista larga. Volto a cabeça para o lado e meu olhar recai sobre um jovem casal.
Ele, sem mais nem menos, toma de súbito sua namorada nos braços e assim, driblando a morte, atravessam a avenida. O perigo não intimida aos que amam, fui testemunha.
Uma brisa do mar soprou sobre os cabelos da menina e ela, de olhos fechados, enovelou-se mais ainda ao pescoço do namoradinho.
Nunca saberei se aquele momento não passou de uma ilusão à toa...

A cena existiu, mas a usei como um bom pretexto para falar de Johnny Alf (1929/2010), cantor, professor de piano e um compositor muito acima da média, expoente máximo da Bossa Nova. Homem muito discreto, faleceu aos oitenta anos em um asilo em São Paulo.
O seu legado artístico-musical irá soprar sobre nós com o frescor de uma brisa marítima. Alusão a "Eu e a Brisa", uma perfeição, Obra de Mestre.
Escolhi "Ilusão à toa" por uma questão de afinidade pessoal. Será interpretada aqui em dueto com a exuberante intérprete, Fafá de Belém.
Sintam-na com toda a alma e o coração!

"A conduzir o nosso amor discreto..."

sexta-feira, 5 de março de 2010

Monólogo com a minha cidade...

Essa é a minha cidade,

Aquela que penso conhecê-la como a palma da minha mão.Viu-me crescer e, pouco a pouco, acabou se transformando em algo que não mais reconheço e não mais me reconheço nela. Ruas, viadutos, prédios altos, concreto pesado sepultando o verde. Restou um único florista onde se compravam as mais atraentes rosas-chá. Ficou ainda a lojinha de tecidos finos bem espremidinha. Ali, na avenida principal. Quem compraria tecidos finos, hoje? Os jeans invadiram a área. Adeus às sedas, brocados e linhos, adeus...
Falo e não posso me esquecer de citar as calçadas cheias em dias de pagamentos mensais e uma massa de gente apressada que não nos cumprimenta, nem deveria, antes se lança sobre nós num pugilismo suado, sem charme, sem perfume e, muito menos, sem poesia. Ninguém meteria poesia nessa encrenca de camelôs, travestis, garotas de programas e uns tantos aposentados, mesmo a todos amando, busco pela gentileza que se foi.
Choveu demais, o bueiro entupiu e sobras de tudo vagueiam feito navios fantasmas no sujo mar. Mar da minha cidade que nunca o terá.
Restou a praça que, um dia, disseram que ao povo pertencia. Entulham-se os carros da classe média - afundada em dívidas - pelas calçadas, vistosos, brilhantes, entulhos de lata. Avisto alguns arbustos que, sem dúvida, serão destroçados pela companhia elétrica por ameaçarem eletro-domésticos comprados a prestações e mais úteis que o oxigênio que ainda é gratuito.
Conte para mim, minha perdida cidade no recôndito da minha mente mediúnica o quanto juntas sofremos, no passado e no presente, o futuro não virá, eu sei. Faremos esse acordo tácito e lhe mostrarei as cicatrizes dos tombos e escorregões nas cascas de bananas no meio do caminho que trilhamos. Como doeu e ninguém notou, ninguém chorou, nem por mim, nem por você. Pois é, eu sei que você vai me ouvir, só você...

As Vitrines...


Canta, Chico!

Nossa Homenagem ao Dia Internacional da Mulher - presente do amigo Edu .Obra do genial Edgar Degas que gostava de valorizar a mulher no seu dia a dia. Obrigada, meu gentil amigo!