quinta-feira, 5 de junho de 2008

JOÃO E A PEDRA...A PEDRA E JOÃO...JOÃO E A PEDRA...

JOÃO E A PEDRA
Falar de João Cabral é "chover no molhado". Desde muito cedo, admiro a sua OBRA que dizem ser "seca", sem frescuras poéticas. Mas, é assim mesmo que a gente admira esse pernambucano de uma timidez intransponível, mas dotado de uma CONSCIÊNCIA SOCIAL extraordinária do nosso tempo. Citam e cantam sua "MORTE E VIDA SEVERINA", porém foi a "EDUCAÇÃO PELA PEDRA" que nunca saiu da minha cabeça. Quando estudei Direito tive um professor de Penal que havia sido seu secretário e com ele viajou pela Espanha e, frequentemente, o relembrava como uma das figuras mais simples e educadas que já conhecera, tão diferente dos falsos poetas e intelectuais que hoje chafurdam por aí em busca do sucesso efêmero e falso.



A Educação pela Pedra (João Cabral de Melo Neto)

Uma educação pela pedra: por lições;
Para aprender da pedra, freqüentá-la;
Captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
Ao que flui e a fluir, a ser maleada;
A de poética, sua carnadura concreta;
A de economia, seu adensar-se compacta:
Lições da pedra (de fora para dentro,
Cartilha muda), para quem soletrá-la.

Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
E se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
Uma pedra de nascença, entranha a alma.